sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Post Barão de Itararé - Segunda-feira, dia de descanço

Mais um post do Barão, desta vez imenso.Aproveitem!

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Segunda-feira, dia de descanso


Dificilmente êste mundo entrará nos eixos, porque há muita coisa errada que os homens não querem consertar. Por exemplo: porque insistem em considerar o domingo dia de descanso, quando na verdade êsse dia é aquele no qual agente se cansa mais?

O domingo é dia de descanso só nos catecismos religiosos. Praticamente é o dia mais trabalhoso da semana.
Os católicos, que, por imposição de um mandamento eclesiático, têm obrigação de observar o descanso dominical, são dos que menos repousam. Efectivamente, todos os bons católicos, no sábado à noite, deitam-se preocupados, pois querem se levantar no domingo muito cedo, para assistir à primeira missa, que é a mais curta. Com essa preocupação, não dormem direito e já se erguem do leito indispostos e fatigados, o que é natural, pois perdem o sono da manhã, que é o mais gostoso e reparador. Alguém poderá objetar que nada obsta que um católico se levante mais tarde, porque, se perder a missa das 6, isso não tem importância, uma vez que há missas também às 10 e até às 11 horas. Sim. mas essas missas têm sermão e os católicos em geral preferem madrugar a ouvir uma missa com sermão. Por outro lado, se observarmos também a vida dos párocos, que pregam o descanso dominical, veremos, sem dificuldade, que o domingo é justamente o dia em que mais trabalham.
Mas não são apenas as pessoas religiosas que sofrem no domingo. Da mesma forma os hereges e incrédulos passam nesse dia os seus momentos de amarguras, mesmo quando pensam que vão se divertir. De fato, há os que se levantam de madrugada para ir a um pic-nic. Carregam bolsas, malas, vitrolas, cestas com garrafas, discos, sanduíches, galinhas assadas. Caminham quilômetros. Dançam. Sobem em árvores, escalam montanhas, esfalfam-se a mais não poder e, à tardinha, derreados e em petição de miséria, toca a preparar a trouxa para voltar. E toca a correr para não perder o trem. Chegam á estação do subúrbio de língua de fora, mas felizmente o trem vem atrasado. Felizmente? Qual ! infelizmente porque agora tem que se esperar mais uma hora em pé, sem um lugar para a gente se sentar. Depois é a luta livre, valendo tudo, por um lugar no trem, sobraçando embrulhos e carregando as crianças pela mão. Descem do trem para enfrentar a fila do ônibus, e discutir com o trocador, enquanto os pequenos dormem e já precisam ser carregados no colo. E assim, aniquilados e inúteis, retornam ao lar, pedindo a tôda uma cama para repousar o esqueleto.
Êste outro tem um automóvel guardado na garagem e resolve sair a passeio com a família. Na estrada da Tijuca estoura uma borracha. a caranguejola estaca. Há um movimento de inquietação entre os passageiros do veículo, que começam a reclamar. O chefe da família desce gravemente. Tira o casaco com solenidade e resignação. Abre a caixa de ferramentas e não encontra o macaco. Murmura alguns nomes feios em voz baixa e resolve cruzar os braços à espera de algum automóvel que lhe queira prestar socorro. A filha revolta-se, porque tinha um encontro marcado com o namorado.O caçula fulmina o pai, por fazê-lo perder uma partida de futebol, na qual figuraria como centro-avante. E sua distinta consorte aproveita a oportunidade para insultá-lo de mentecapto e cretino, que, em vez de vender e passar adiante aquela carroça infecta, ainda sujeita a família a semelhantes humilhações. Com os miolos em brasa, apertando os lábios para não explodir, o cabeça do casal ordena a todos que desçam. E, então, põe as mãos à obra. Auxiliado por um caboclo que vai passando, levanta a muito custo a roda do automóvel, enquanto o filho mais velho sustenta o eixo com um grosso tronco de pau. Arregaça as mangas e, alagado em suor, começa a tirar a roda, que deve ser substituída por outra que está na garupa do carro. E se suja todo. E se lambusa. E sua única roupa, que veio ontem do tintureiro, está imprestável. Perdeu quatro horas nessa brincadeira, mas, afinal, o carro está em condições de andar. Mas, com aqueles pneus carecas, só pode rodar com muito cuidado, em marcha de corso. E, assim, regressam todos, vociferando, rogando pragas, excitados e furiosos, por terem perdido estupidamente o domingo.
E já repararam como os desportistas descansam nos domingos, disputando violentas partidas de tenis ou de basquete ou ainda correndo como loucos atrás de uma bola, partindo costelas ou rebentando as canelas? E os que metem a família num barco e vão remando até a prostração?
E os que frequentam as gafieiras e dançam a noite inteira distentendendo os músculos nos requebros do samba ou nas contorsões do Boogie-Woogie, para entrarem em casa de manhã esgotados, com as botinas na mão e os pés em brasa?
mas nem todos os cristãos são idiotas. Entre êles há criatura sensatas e tranquilas, que, ao invés de se meterem em competições trepidantes e provas de resistência, preferem passar o domingo em casa, arrumando os livros ou pondo as coisas em ordem. E já viram trabalho mais estafante do que êsse?
E os casados que são compelidos a viras a terra do jardim e catar as raízes da tiririca? E os que têm que levar a prole ao cinema e as crianças à Quina da Boa Vista?
E chamam a isso descansar? Será que isso merece mesmo o nome de repouso?
Não, meus amigos! O domingo tem sido e continua a ser o dia do cansaço. O verdadeiro dia de repouso é segunda-feira. Aí sim, é que se descança de verdade das fadigas mortificantes do domingo. vejam no escritórios, observem nas repartições públicas a moleza geral que domina os mais ativos funcionários na segunda-feira. E como se espreguiça o chefe e com que graça, com que donaire boceja a secretária?
Porque o govêrno não reconhece oficialmente que a segunda-feira e não o domingo é o dia ideal para o descanço semanal?

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Concordo, sábado passeio, domingo também, e segunda descanso.Porque afinal, não há domingo sem missa e segunda sem preguiça.

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